Cubaliwa

CAPA

Queria escrever um texto interessante sobre o mais recente trabalho discográfico de Azagaia. Queria dizer que acho o álbum uma verdadeira comédia, um autêntico estaticismo musical, quando comparado com o primeiro, “Babalaze”, que já, por si só, é copia genuína do “Serviço Público” de Valete.

Queria dizer isso argumentando que, por exemplo, as composições “Pela Música” do álbum “Serviço Público”, de Valete, e “Até ao Fim” do disco “Babalaze” têm o semelhante comboio de artistas, a mesma similitude nas instrumentais e até um “Sam The Kid” no final da música dando considerações finais. O referido “Sam The Kid”, na composição “Até ao Fim”, é Izlo H.

Havia, no meu texto, um parágrafo que argumentaria o referido “estaticismo musical”, pois, se no primeiro álbum, essa imitação a Valete devia-se à imaturidade do rapper Azagaia, por se tratar do seu primeiro álbum. Como se justificaria em “Cubaliwa”, cinco anos depois, uma nova semelhança entre as músicas “Revelação”, “Serviço Público” e “Maçonaria”? Há o semelhante Intro, a semelhante forma da abordagem veiculada e até a semelhança no “skills aportuguesado” do cidadão que “fala em rhonga, fala em cena e em citwa” na música “Calaste”.

O meu texto também tocaria na pobreza de inovação em termos de instrumental. Nele eu referir-me-ia que de “Babalaze” a “Cubaliwa” pouco ou nada se fez para mudar as instrumentais. Por exemplo, é muito fácil reconhecer “A Marcha” em “Calaste”.

Penso que o meu seria um texto interessante, repito, pois no seu final ainda diria que não se pode separar o RAP dos outros géneros de música. Sendo assim, o tal “Skils” que caracteriza os rappers, e que por causa do receio de serem conotados como “traidores”, ” pandzeiros”, “p**as da fama fácil”, entre outras alcunhas pejorativas, fá-los cair sempre neste estaticismo musical em que se pode até mudar a composição, mantendo-se, no entanto, sempre as mesmas instrumentais e as mesmas maneiras de abordar a mesma mensagem.

Por último, o meu texto falaria sobre a importância de se ter álbuns de música moçambicana na praça. Mas muito acima de se ter trabalhos discográficos no mercado, é muito mais importante que tais obras artísticas tenham qualidade musical e algum diferencial entre um e outro.

Quis escrever um texto assim e até publicá-lo. Mas num país em que a opinião da minoria é conotada como inveja, ainda mais tratando-se de um álbum de música que está a ser elogiado em todos os lados – pese embora, os referidos elogios só se focalizam nas composições – sem se olhar para os pequenos aspectos de que, aqui, falo, vir à tona e dizer que o trabalho discográfico “Cubaliwa” devia ser chamado “Babalaze Volume II” ou “Serviço Público Cover” seria, no mínimo, suplicar pela própria crucificação em pleno espaço público.

Por isso resolvi calar-me, arrumar o meu texto na minha pasta de arquivos e ficar a ler, a ouvir a opinião da maioria. Afinal, a maioria faz o povo, Azagaia é a voz do povo e a voz do povo é a voz de Deus.

Texto de Mariamo Salimo